Encontros debate sustentabilidade da agricultura familiar
Na segunda quinzena de maio, a Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), a Cooperativa Agroindustrial Pradense(Cooprado), e o Sistema OCERGS/SESCOOP realizaram três encontros em Ipê e Antônio Prado, com a finalidade de debater a sustentabilidade da agricultura familiar tendo em vista questões como sucessão na propriedade, fortalecimento do cooperativismo e viabilidade da propriedade. Mais de cem produtores familiares participaram dos encontros, mediados pelo Engenheiro Agrônomo, José Miguel Pretto, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil.
Pretto, em primeiro momento, apresentou dados estatísticos sobre a produção de soja, milhos, batatas e uva. Segundo ele, os cultivos estão migrando para outras regiões do país. Um exemplo disso é migração da soja para a região de cerrado (Mato Grosso, Goiá, sul doTocantins Pará, parte de MInas e São Paulo ). Por lá o produtor consegue atingir uma produção elevada, pois o clima beneficia produção pela frequência e quantidade chuvas reguladas, ao contrário que no sul onde as chuvas são irregulares. “Percebeu-se nos últimos anos que as culturas estão saindo de um lugar para outro. Há 30 anos tínhamos uva aqui na região da Serra. Hoje ela está campanha, na região do vale do São Francisco e com uma qualidade e até produtividade superior à da serra. ”
Conforme o profissional da FAO, isso se dá vista a utilização da irrigação. “Temos que pensar no seguinte: o futuro da agricultura está na irrigação. Quem define a produtividade são as condições climáticas. Se não buscarmos um nível elevado de rentabilidade de nossas propriedades, coremos o risco de não termos mais propriedades produtivas.
Para ele, a tendência é diminuir o número de produtores. “Para podermos exportar e nos tornar potência, precisaremos de qualidade. Para isso, será necessário investir. Quem não quiser, sairá do mercado”, disse. Se os produtores compararem a lucratividade da soja com a do leite, conforme Pretto, investirão no leite. Por exemplo, em uma área de 10 hectares plantando soja é possível obter uma renda líquida anual de R$ 15 mil. No mesmo espaço, com uma média de 30 vacas bem cuidadas e com o uso da tecnologia, garante-se uma renda líquida mensal de até R$ 8 mil ou 96 mil por ano..
No Brasil o modelo de agricultura implantada é fundamentada na entrada de insumos quimicos. Com isso o produtor gasta mais, trabalha dobrado e tem lucro reduzido. “Atualmente, muitos produtores dizem: a terra não dá mais! Nem mais na horta vem alface sem ser com produtos químicos. Isso dá-se porquê? A terra não tem mais fertilidade. Há nela muito adubo químico. É preciso voltar e utilizar a adubação orgânica”, explica.
Outro ponto discutido nos encontros foi a questão de sucessão familiar. Segundo dados apresentados por Petto, entre os anos de 2005 a 2015, a agricultura familiar perdeu 248 mil pessoas com idade entre 18 a 34 anos, isto é, que deixaram de trabalhar na agricultura para atuar no comércio, industria e serviços nas cidades. “Neste período, em Antônio Prado, 903 pessoas deixaram de trabalhar nas propriedades rurais. Trabalhar na agricultura é penoso, é difícil. E se não dermos a vez aos jovens para atuarem no que é deles não vamos ter agricultura no Rio Grande do Sul,”
Para a Sra. Almira Falavigna (cooperada Cooprado) um dos erros que há neste êxodo de jovens das propriedades rurais é a falta de dialogo entre pais e filhos. “Não temos o costume de dialogar, mas é preciso mostrar aos filhos ou filho que está na propriedade tudo que está ocorrendo, todas as decisões a serem tomadas sejam em conjunto. Mostrar a vida financeira principalmente”. O jovem Cristian Peretti concorda com isso: “Já ouvi de muitos outros jovens que participaram de seminários, que o pai diz: Isso tudo aqui quando eu morrer, vai ser seu. Isso afasta ainda mais”.
É! Esses e outros motivos afasta o jovem de trabalho agrícola. “Se não sou responsável não me aproprio é assim que os jovens de hoje se sentem. Por isso, cuidem do seu bem estar, de uma casa aconchegante para descansar de um dia fadigoso. Viajem, tirem férias, se profissionalizem. Tudo isso valoriza e diminui a penosidade do trabalho e conquista os jovens a permanecerem e atuarem ”.
Escola Família Agrícola
Aproveitando a realização dos encontros sobre sustentabilidade da agricultura familiar, o Padre Remi Casagrande, designado pela Diocese de Caxias do Sul para atuar junto às cooperativas, apresentou a Escola Família Agrícola, localizada na comunidade da 3ª Legua, interior de Caxias do Sul.
Os conteúdos e métodos de ensino e aprendizagem são embasados na realidade dos alunos e fundamentados na pedagogia da alternância. Os jovens permanecem uma semana na escola, em regime de internato, e outra em casa com a família, aplicando na prática os conhecimentos. Ao final de três anos e meio, o aluno recebe o certificado de conclusão do ensino médio e a habilitação para atuar como técnico agrícola. As aulas teóricas são ministradas na Faculdade de Integração do Ensino Superior do Cone Sul (FISUL) e as aulas práticas na propriedade rural da família do aluno. Os alojamentos ficam nas dependências da Comunidade Marista Caxias do Sul.